Sé é uma freguesia urbana da cidade e concelho de Angra do Heroísmo, com 1,84 km² de área e 955 habitantes (2011), o que corresponde a uma densidade populacional de 519 hab/km². A freguesia foi a primeira das paróquias citadinas de Angra a ser estruturada,[2] correspondendo inicialmente a um vasto território que se estendia desde a Cruz das Cinco até à Atalaia e ao centro da ilha. Com a progressiva criação das actuais cinco freguesias urbanas da cidade de Angra, perdeu toda a sua parte rural e ficou reduzida a um pequeno território na parte central da cidade, constituindo o seu centro histórico, a que se junta a península do Monte Brasil. Todo o seu território integra os limites legais da cidade,[3] estando totalmente incluído na zona classificada como conjunto de interesse público da cidade de Angra do Heroísmo[4] e na zona classificada como Património da Humanidade pela UNESCO. O topónimo Sé teve origem na Sé Catedral de Angra, edificada no centro da freguesia.
Descrição
Situada na parte central da costa sul da ilha Terceira, na parte mais reentrante da baía de Angra (origem do topónimo da cidade), a freguesia da Sé de Angra, juntamente com as outras quatro freguesias urbanas (São Pedro, Santa Luzia, Conceição e São Bento), constitui a cidade de Angra do Heroísmo, sede de concelho e uma das co-capitais da Região Autónoma dos Açores. A paróquia católica que esteve na origem da freguesia tem por orago a invocação de São Salvador do Mundo (Salvator Mundi), designação da sé episcopal da Diocese de Angra, cujas festividades se realizam anualmente no mês de Junho.
A freguesia da Sé ocupa um pequeno território delimitado a sul pela linha de costa, entre o Cais da Alfândega e o Fanal, a leste pelo traçado da Ribeira dos Moinhos, a norte pela Rua do Marquês e pela Rua do Rego e a oeste pelo arruamento que liga o Alto das Covas ao Castelo de São João Baptista do Monte Brasil e depois, para oeste, pelo paramento exterior das muralhas do Castelo até ao ponto em que estas atingem a linha de costa na baía do Fanal.[1] Neste território fica totalmente incluída a península do Monte Brasil. Confronta a norte com a freguesia de Santa Luzia de Angra, a leste com a Conceição, a sul com o mar e a oeste com São Pedro de Angra.
O território tem forma irregular, com cerca de 1,46 km de largura máxima na direcção este-oeste e 2,20 km de comprimento máximo na direcção sudoeste-nordeste (incluindo a península do Monte Brasil). A área de 1,84 km² é maioritariamente constituída pelo Monte Brasil e Relvão (designação dada à parte do istmo do Monte Brasil adjacente ao Castelo de São João Baptista que foi mantida desimpedida de construções e árvores como zona de protecção imediata da fortaleza), que ocupa 1,55 km², enquanto que a área citadina propriamente dita ocupa apenas 0,29 km². Se for considerada apenas a área urbana, excluindo assim os aquartelamentos da fortaleza, a densidade populacional específica da zona urbana é de 3293,1 hab/km².
Geomorfologia e geologia
Apesar da sua pequena extensão, o território da freguesia da Sé apresenta uma geomorfologia complexa, reflexo da sua inserção na base do istmo do Monte Brasil, abrangendo a parte mais significativa da costa das duas baías que o ladeiam (a baía de Angra a leste e a baía do Fanal a oeste). A esta estrutura acresce o próprio istmo, repartido entre as freguesias da Sé e de São Pedro, e o vulcão do Monte Brasil, com a sua complexa estrutura eruptiva e com uma geologia ímpar entre os cones costeiros açorianos.
Do ponto de vista geomorfológico e geológico, o território da Sé apresenta três zonas distintas: (1) a plataforma de Angra; (2) o istmo; e o vulcão do Monte Brasil. Cada uma dessas zonas tem as seguintes características:
Plataforma de Angra — uma região aplanada, com declive suave em direcção a és-sueste, que se inicia na linha de festo que une o Espigão ao istmo do Monte Brasil, sobre a qual se encontra instalada a maior parte da parte baixa da cidade de Angra do Heroísmo. A zona encontra-se totalmente urbanizada, assentando sobre uma espessa (c. 10-15m) camada de hialoclastitos negros, fortemente soldados, proveniente da erupção do Monte Brasil. Sob esta camada está presente um ignimbrito acastanhado relativamente espesso (c. 5–7 m) que recobre uma base constituída por camadas de basalto provenientes de lavas basálticas sub-aéreas, muito fluidas, que foram depositadas em múltiplas camadas pouco espessas e inclinadas para NE.
Istmo do Monte Brasil — é uma faixa com cerca de 500 metros de comprimento por 500 metros de largura estabelecendo a junção entre a ilha e o Monte Brasil. O istmo atinge os 65 m de altitude na sua parte central, constituído por uma espessa base de basaltos depostos em camadas finas e inclinadas para NNE, provenientes de erupções sub-aéreas centradas num centro eruptivo localizado sensivelmente a WNW do actual Monte Brasil. Encontra-se recoberto por uma espessa camada de hialoclastito do Monte Brasil, tendo subjacente, pelo menos no seu bordo oeste (do lado do Fanal) alguns depósitos ignimbríticos. Antes da formação do Monte Brasil, o istmo formava um promontório saliente na costa sul da ilha, resultado de uma erupção basáltica sub-aérea anterior.
Vulcão do Monte Brasil — é um grande cone vulcânico, com cerca de 1,5 km de diâmetro, constituído quase exclusivamente por tufos hialoclastíticos, que resultou da erupção de um vulcão submarino do tipo surtseiano (caracterizada pelo facto da chaminé ter estado em contacto com a água do mar em águas pouco profundas), emitindo lavas basálticas, com centro eruptivo muito próximo da costa da ilha, a que acabou ligado por um estreito istmo. O flanco sul do cone foi cortado pela erosão marinha, expondo espessos depósitos piroclásticos deixando à mostra várias estruturas geológicas, como estratificação, figuras de carga e fósseis de plantas.[5] A erupção ocorreu há cerca de 20 000 anos, com explosões violentas e formação de nuvens ardentes. Os materiais depositados são essencialmente hialoclastitos, localmente palagonitizados.[6] Cinzas e lama deixaram moldes dos troncos de árvores, provavelmente Laurus azorica, bem como de caules e folhas de hera (Hedera azorica) e de diversas plantas herbáceas. Estes fósseis sui generis foram pela primeira vez descritos pelo naturalista José Agostinho, que os designou por fósseis vulcânicos do Monte Brasil.